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CACD 2020 - Mudanças para a Prova de Português!

Como se nada estivesse acontecendo no país e no mundo, temos edital para o CACD 2020. Ele vem com duas mudanças importantes para a Prova Escrita de Língua Portuguesa.


Um pequeno comentário, antes de entrarmos no tema: chamar um concurso nesse exato momento, com a primeira prova em 30 de agosto, é extremamente irresponsável. Dois pontos parecem-me bastante ilustrativos da postura delirante do Itamaraty: prever possibilidade de “deslocar a aplicação do local de prova para outro município no mesmo estado ou em estado próximo (!!!), desde que tal alteração seja divulgada com antecedência mínima de 5 (cinco. Cinco!) dias da data determinada para o início daquela fase”; e prever distanciamento de no mínimo 1 metro entre candidatos, contrariando todos os protocolos e recomendações sobre distanciamento social.


O concurso também já nasce forte na simbologia: a primeira prova da terceira fase é no Dia das Bruxas, e a última é no Dia de Finados.


Só que vocês não vieram aqui para isso. A gente poderia ficar horas apontando falhas e irresponsabilidades, mas a verdade é que as datas estão marcadas. Excetuadas eventuais judicializações, temos de ser pragmáticos e trabalhar com as datas em mãos e com as informações apresentadas no edital. Vamos lá, então.


A prova de Português


Nossa prova ocorrerá dia 27 de setembro de 2020, um domingo – o que, aliás, bizarramente coloca a prova de inglês em uma segunda-feira –, terá duração de 5 horas e início às 14h, como já é tradição.

Eu disse que tínhamos duas mudanças importantes, e a primeira já surge quanto à estrutura da prova: mantêm-se a redação de 65 a 70 linhas e um exercício de 15 a 20 linhas; e o outro exercício de 15 a 20 linhas é substituído por um resumo, com extensão “a ser estabelecida no comando, estimada entre 35% e 50% do texto a ser resumido”.


Essa é a primeira grande mudança de estrutura das questões de Português desde 2006, ano em que a banca adotou a redação longa e os dois exercícios curtos como padrão; também é a primeira vez que temos resumo desde 2004. Nossa prova agora se aproxima ainda mais das demais provas de línguas, dado que todas elas agora preveem o resumo nos mesmos termos.


Pessoalmente, parece-me uma mudança (1) não totalmente necessária, já que não havia grandes problemas com a estrutura anterior, e (2) não totalmente surpreendente, dado que nossa prova é e sempre foi primariamente uma prova de línguas.


Para quem já se prepara, as adaptações aos estudos são cruciais, mas não desesperadoras, uma vez que vocês já têm experiência exaustiva nesses estilos de resumos em inglês, espanhol e francês. O edital não permite afirmar com certeza a extensão do exercício, mas, se a banca utilizar os demais resumos como padrão, é possível que tenhamos um texto de cerca de 1000 palavras para ser resumido em 50-60 linhas.


A segunda mudança da prova é a diminuição do peso das notas de correção gramatical e propriedade da linguagem. Isso ocorrerá de duas maneiras:


  1. Diminuição, já iniciada em 2019, na penalização por erro. De 1 ponto, até 2018, fomos pra 0,45 na redação e 0,35 nos exercícios, em 2019. Em 2020, teremos 0,3 de penalização por erro na redação e 0,35 no exercício e no resumo.

  2. Mudança na divisão de pontos da redação. Até 2019, a nossa prova dividia a nota de redação – 60 pontos totais – em 30 pontos de conteúdo (em três subquesitos, valendo 10 cada um) e 30 pontos de correção gramatical e propriedade da linguagem. A nova divisão muda o peso: 40 para conteúdo, 20 para gramática e propriedade da linguagem. Veja abaixo a nova divisão – o quesito “capacidade de análise e reflexão” passou a valer 20 pontos:


Em uma prova na qual a nota mínima necessária é de 60 pontos, isso aumenta a importância da leitura criteriosa, da boa interpretação de textos (os comandos e os excertos motivadores) e da capacidade de responder, de forma clara e precisa, àquilo que foi solicitado pela banca.


Vou ser sincero e dizer que a penalização ficou leve demais: nesse exato momento, um candidato perde mais pontos errando gramática na tradução da prova de Inglês do que na nossa prova, o que me parece bastante esquisito, pra dizer o mínimo. Mas isso vai levar a uma variação de nota? A princípio, não dá pra saber. Vamos tentar uma breve análise.


A grande mudança da prova de 2019 certamente foi no método de correção de conteúdo: a banca jogou os critérios pela janela e foi extremamente leniente com todos os candidatos. Isso é perceptível em alguns dados simples:

  1. A média de notas dos candidatos que tiraram acima de 60, ou seja, já eliminados os que não tiraram a nota mínima, passou de 74,69 em 2018 para 89,63 em 2019. A taxa de reprovação passou de cerca de 15% para 0%.

  2. O desvio-padrão, que mede o espraiamento de notas (quanto maior o desvio, mais espalhadas as notas estão; quanto menor, mais perto da média elas estão), caiu de cerca de 12, em 2018, para cerca de 1, em 2019

  3. A prova de 2018 teve 61 pessoas tirando acima de 80. A prova de 2019 teve apenas quatro candidatos que não tiraram acima de 80.


Em 2019, tivemos a maior nota média dos últimos 10 anos e o menor desvio-padrão. Em outras palavras, a prova foi uma em que todo o mundo foi bem e em que a diferenciação entre candidatos foi mínima, ainda que não desprezível em um concurso como o nosso.


Qual o motivo disso? Especificamente a correção de conteúdo, que, nos anos anteriores, fora o grande aspecto de diferenciação entre candidatos.


A gramática diferencia candidatos? Sim, mas só até certo ponto. Os 50 melhores candidatos raramente cometem muitos erros microestruturais, de modo que o maior fator explicativo das notas diferentes, no topo, é o conteúdo – especificamente, a capacidade de entender o que está sendo pedido e de responder ao comando de forma clara, precisa, analítica e pessoal.


Se a banca é boazinha com todo o mundo, os melhores textos diferenciam-se menos, e temos uma prova como 2019.


Sabemos se a prova de 2019 é o início de nova tendência ou um ponto fora da curva? Não, e só saberemos isso quando as notas de 2020 chegarem às nossas mãos. O que sabemos é que, (1) se a banca mantiver sua correção leniente, teremos uma tendência de manutenção/aumento das notas; e (2) se a banca fizer uma correção mais criteriosa, como no período 2014-2018, teremos uma tendência de queda das notas. Isso, claro, comparando com as de 2019.


E é isso, por enquanto. Mantenham a sanidade por aí, e farei eventuais atualizações sobre a prova de Português conforme novas notícias surjam.


Abraço e bons estudos!

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